Café Literário

terça-feira, 26 de junho de 2012

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe um grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galos,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã,toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se enleva por si: luz, balão.

Tecendo a manhã,
de João Cabral de Melo Neto.


                                                                          

Nenhum comentário:

Postar um comentário